Qual é a sua opinião sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

LEITURA E CIDADANIA

POR Jorge Werthein*


O Brasil vem reduzindo sua taxa de analfabetismo com velocidade constante nas últimas décadas. Hoje, ela é de 9% da população -16 milhões de analfabetos absolutos com 15 anos ou mais.
A pessoa que não sabe ler nem escrever se sente profundamente limitada e discriminada. Não consegue entender o jornal, não sabe pegar ônibus nem possui condições para obter um emprego. Sua auto-estima é baixa.
O Indicador de Analfabetismo Funcional informa que 67% dos brasileiros têm interesse na leitura. Mas não existem bibliotecas em cerca de 1.000 municípios dos 5.564. Em 89% deles não existem livrarias. Lê-se pouco.
O governo federal, os governos estaduais e municipais e diversas instituições da sociedade civil promovem ações para fornecer livros, informações e alcançar o brasileiro que está na ponta da linha, em alguma região menos desenvolvida. É um tremendo esforço que envolve pesada logística.
Não é fácil. Os resultados estão chegando. Poderiam ter mais velocidade. Porém, é inegável que a situação de hoje é melhor que a de ontem.
O que faz a diferença agora é a tecnologia. Os professores dispõem de recursos impensáveis anos atrás. Eles têm à disposição projetores, computadores com acesso à internet e a possibilidade de interagir com outros centros de excelência.
Em vários países, é normal ter salas de aula com até 300 alunos, que são convidados a ler antecipadamente sobre o tema que o professor vai expor.
E, posteriormente, voltam aos livros para conferir o que foi apresentado. É um ensino de massa que visa qualificar muita gente em pouco tempo.
Mas há outro caminho ainda não totalmente percebido no Brasil. A nova tecnologia dos telefones celulares - a chamada 3G. Telefone não é mais utilizado apenas para comunicação oral. Ele se presta para transmissão de dados, para ver televisão, para receber e mandar e-mails, para ouvir rádio, para ler jornais, para ver filmes.
É para essa nova tecnologia que os gestores da educação precisam olhar com atenção. Os professores devem se capacitar para usar a nova linguagem. Hoje, existem mais de 3 bilhões de telefones celulares no mundo. No Brasil, já foram comercializados 130 milhões de aparelhos. Eles cobrem mais de 80% do território nacional.
O plantador de soja no interior de Mato Grosso sabe o preço exato de seu produto nas Bolsas por intermédio do aparelho. É ele que transmite as notícias mais importantes e faz a conexão daquele remoto produtor no setentrião brasileiro com o mundo.
Esse é o novo caminho. Na internet, há de tudo. É preciso dispor das ferramentas certas e saber utilizá-las para obter o melhor resultado.
Infelizmente, os dados disponíveis nos censos elaborados pelo Ministério da Educação indicam que 50% dos professores da rede pública não têm computador. Se eles não dispõem do equipamento, não saberão ensinar o aluno a chegar à rede mundial.
O Brasil é um país de dimensões continentais, que se desenvolve apesar dos desníveis de renda entre pessoas e regiões. Algumas delas, como é comum na Amazônia, são de acesso difícil ou quase impossível via terrestre. O ideal seria ter boas escolas, inclusive profissionalizantes, em cada um dos 5.564 municípios brasileiros.
Mas, na prática, a realidade é difícil, onerosa e demorada. A cidadania decorre do processo de educação. O homem e a mulher alfabetizados conhecem seus direitos e seus deveres. Vão transmiti-los aos filhos e descendentes. Vão ajudar a escolher melhor os governantes e a julgá-los nos momentos adequados.
Isso é cidadania. Não há como falar em cidadão se não houver educação que molde o espírito e prepare o jovem para a aventura da vida adulta, com todos os seus desafios, problemas e incertezas. O Brasil cresceu aos saltos, aos ciclos, mas o seu resultado tem sido extremamente positivo.
Há um país a ser feito. E uma sociedade a ser construída por cidadãos. Seus habitantes só vão merecer a cidadania plena se cuidarem da educação com o carinho que o assunto requer e a prioridade de que necessita. Inclusão digital é um capítulo importante do processo brasileiro de levar educação de qualidade para todos.
Aqueles 9% de analfabetos deverão desaparecer em pouco tempo. O Plano de Desenvolvimento de Educação estabelece que dentro de 15 anos todas as crianças com até oito anos estarão alfabetizadas no Brasil. É possível, é viável. Restarão os analfabetos funcionais, os que sabem ler e escrever, mas não conseguem entender o texto que está diante deles. E sempre haverá espaço e caminho para evoluir na construção da cidadania.


* Jorge Werthein é sociólogo e doutor em Educação pela Universidade Stanford (EUA). Foi representante da Unesco no Brasil e é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana)

sábado, 15 de novembro de 2008

A NOVA ORTOGRAFIA - INFORME-SE!‏

ATENÇÃO!
Não deixe de se informar sobre as mudanças que ocorrerão na ortografia da Língua Portuguesa a partir de primeiro de janeiro próximo, quando entra em vigor o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, com pequenas alterações que nós, professores (e demais profissionais que têm a língua escrita culta como ferramenta de trabalho) já precisaremos utilizar.

No X CONGRESSO NACIONAL DE FONÉTICA E FONOLOGIA e IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE FONÉTICA E FONOLOGIA (http://www.hzen.com.br/client/10congresso) será oferecido um minicurso que versará sobre "A IMPORTÂNCIA DAS PRONÚNCIAS CULTAS DA LÍNGUA NO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA".

Outro evento muito significativo, principalmente, para quem quer ficar por dentro do assunto, é a Conferência "O Novo Acordo Ortográfico e sua Repercussão no Mundo Lusófono", ministrada pelo gramático, professor e pesquisador Evanildo Cavalcante Bechara, que se realizará no dia 27 de novembro de 2008, na UFF, Universidade Federal Fluminense.
Veja a programação:
ACORDO ORTOGRÁFICO: PARÂMETROS E IMPLICAÇÕES

17 horas - Conferência
O Novo Acordo Ortográfico e sua Repercussão no Mundo Lusófono
Evanildo Bechara

19 horas - Homenagem
80 anos de Evanildo Bechara


19 horas e 30 minutos - Encerramento

Local:
Auditório Macunaíma do Instituto de Letras da UFF
Campus do Gragoatá, Bloco C, 4º andar - Niterói - RJ

Fique atento! Vários livros têm saído sobre o tema, como:

POR DENTRO DAS PALAVRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, de Domício Proença Filho.

O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO: SOLUÇÕES, DÚVIDAS E DIFICULDADES PARA O ENSINO, de Manoel Pinto Ribeiro;

A NOVA ORTOGRAFIA: O QUE MUDA COM O ACORDO ORTOGRÁFICO, de Claudio Cezar Henriques;

ESCREVENDO PELA NOVA ORTOGRAFIA: COMO USAR AS REGRAS DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, do Instituto Antônio Houaiss (Coordenação e assistência de José Carlos de Azeredo);

A NOVA ORTOGRAFIA, de Evanildo Bechara.

O QUE MUDA COM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO, de Evanildo Bechara.

Além desses, muitos outros já foram ou estão sendo publicados para que você não fique esperando para aprender quando já estiverem cobrando de você o ensino dessas modificações. Os professores de Língua Portuguesa, assim como os jornalistas e redatores, naturalmente, terão de estar atualizados em relação a essas modificações a partir de 2009, pois os livros didáticos e paradidáticos com essas alterações já estão sendo editados!

*Leia também a nossa postagem do dia 22 de outubro de 2008. Lá tem link que você pode acessar todas as modificações feitas na nossa ortografia da Língua Portuguesa, além de estudos e opiniões sobre o assunto feitos por estudiosos da área.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO - 2ª PARTE

SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS‏

Alguns questionamentos feitos por diferentes pessoas sobre o Novo Acordo Ortográfico foram respondidos por José Pereira da Silva, pesquisador e professor da UERJ.
Aqui, você terá a oportunidade de ler esses questionamentos e respostas ficando por dentro do assunto e tirando suas prováveis dúvidas.

O sistema educacional terá mais facilidade para ensinar os alunos? Será que essa forma não os deixará mais confusos e dispersos da escrita?

Um sistema ortográfico mais simplificado e mais lógico facilita a tarefa do professor e do aluno. Há regras ortográficas que não têm qualquer lógica lingüística e que os professores são obrigados a fazer seus alunos decorarem a regra sem lhes oferecer uma explicação lógica, como é o caso do acento circunflexo nos hiatos -ôo e -êem, por exemplo.
A eliminação do uso do trema nos grupos güe, güi, qüe e qüi vai facilitar a vida dos estudantes e dos professores, assim como a eliminação de vários acentos diferenciais que ainda prevaleceram na língua.

Os livros e dicionários sofreram mudanças. Como o senhor acha que as pessoas se adaptarão já que estão acostumadas com os acentos?

Com dificuldades. As pessoas têm dificuldades para se adaptar com qualquer coisa nova. Todo o mundo se acomoda ao que já conseguiram e fica muito chateado quando descobre que o que tinha não era de boa qualidade e que o que apareceu agora é muito melhor.

Para as pessoas que prestam concursos essas mudanças tornarão as provas mais difíceis?

De maneira alguma, Mônica. As novas regras ortográficas são mais simplificadas que as anteriores. Além disso, fique tranqüila. Somente em 2012 a escola pública vai começar a utilizar o novo sistema ortográfico no ensino fundamental e médio. Como esses cursos terão uma duração mínima de três anos, só em 2015 tais normas serão cobradas em concursos públicos, exceto, naturalmente para os profissionais do ensino e para os profissionais da comunicação escrita.
Além disso, os erros ortográficos correspondem, hoje, nas avaliações lingüísticas a mais da metade dos erros cometidos pelos alunos e profissionais. Aumentar isto é bastante difícil.

Como o senhor acha que a sociedade encarará tal reforma?

Depende do que você chama de sociedade.
A língua escrita padrão é cobrada apenas de uma elite muito selecionada, que corresponde a pessoas que tenham curso superior e somente em algumas especialidades. Nem o médico, nem o engenheiro, nem o técnico em geral será cobrado quanto a isto. Nunca foi.
O cidadão comum, que corresponde a quase noventa por cento da sociedade, nem perceberá que houve alteração. Primeiro, porque já não sabiam as regras atuais de ortografia; depois, porque isto não lhes fará falta.

Segundo alguns sites de informações sobre as novas regras da Língua Portuguesa filólogos são a favor e editores não, da reforma. Porque?

É balela. Ninguém é favor de acordo nenhum. Qualquer acordo significa negociação em que ambas as partes perdem para chegarem a um meio termo possível ou tolerável.
Se houver um "acordo" em que uma parte ficar plenamente satisfeita, o nome seria "ditadura" ou "imposição". Acordo é negociação quando não é possível convencer uma das partes a aceitar inteiramente a proposta da outra.
Talvez seja até o contrário, em termos estatísticos. Os filólogos e lingüistas estavam todos esperando um acordo que simplificasse definitivamente o nosso sistema ortográfico, mas isto não foi possível porque houve muita resistência em alguns grupos.
Entenda que a língua portuguesa é uma das mais faladas no mundo e está espalhada em oito países como língua oficial, além de dezenas de outros como segunda língua.
Os editores, em sua maioria, terão até vantagens, visto que a maioria dos livros é vendida em dois ou três anos e o custo da produção de um livro é de apenas 25% do seu custo de mercado.
Livros como a Biblia, por exemplo, podem ser lidos em qualquer ortografia, pois isto não afetará em nada sua compreensão nem os seus objetivos.
Já percebeu que a Bíblia, na versão mais popularizada entre os evangélicos, tem uma linguagem bem arcaica?
A maioria das pessoas não gostam da idéia de uma nova ortografia. O que o senhor diria a elas sobre essa questão?

A maioria das pessoas não gosta nem sabe o que é a nova ortografia. Nem a velha.
Você sabe utilizar corretamente o hífen nas palavras compostas com as regras que você já estudou (ou deveria ter estudado) na escola? Você usa corretamente o trema e o acento grave nas situações que a ortografia atual exigem?
Estou tratando de uma estudante interessada no assunto. Imagine o que acontece com um estudante de Matemática, Biologia, Química, Física, Medicina, Engenharia etc.
Professores terão que ter aulas, antes, para ensinar seus alunos? Como o senhor acha que será esse processo?

É óbvio. O Espírito Santo não infundirá em cada um deles o conhecimento das novas regras ortográficas nem teria tempo para isto. Atualizar-se profissionalmente faz parte da vida de qualquer pessoa que se especializa em qualquer coisa. Hoje, quem não se recicla em sua profissão está perdendo o emprego desde o momento em que tomar posse dele.
Esse processo será como qualquer outra reciclagem. Uma ferramenta ultrapassada pela tecnologia pode ser reciclada ou virar lixo. É assim também com os profissionais de hoje, muito mais do que era nos tempos em que a história avançava em passos de tartaruga. Hoje, tudo tem a velocidade da eletrônica.
Quando acontecerá, de verdade, as mudanças ortográficas? Por que só agora decidiram colocar em prática?

Já estão acontecendo. Os profissionais do ensino de Letras já têm gramáticas, dicionários e livros especializados que lhes oferecem informações a este respeito.
A Academia Brasileira de Letras está terminando de preparar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa para servir de base para os pesquisadores mais detalhistas e para resolver as questões que dependerão de um árbitro.
Por que só agora decidiram colocar em prática?!... Porque tudo tem o seu tempo. O projeto da simplificação ortográfica teve início em 1986, foi aprovado em 1990, passou por negociações políticas e acadêmicas desde aquela época, inclusive com inclusão de mais um país (o Timor Leste) entre os que o negociaram inicialmente. A partir de primeiro de janeiro de 2007, com a assinatura de três países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Acordo está oficialmente em vigor, mas isto não basta, pois a sua implementação depende de decisões políticas que demandam muito investimento.
A implementação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa depende de reciclagem do professorado, depende de aquisição de livros didáticos e paradidáticos para todas as escolas públicas do país e, neste caso, a negociação com as editoras e com os autores tem de ser feita com um bom prazo de antecedência, porque não apenas umas centenas de livros, mas muitos milhões deles.
Com a ratificação as nações ficaram mais unidas, já que facilitará a linguagem internacionalmente
Você pensou em fazer uma pergunta ou é uma declaração?
A cooperação entre os países de língua portuguesa será facilitada, pois uma editora poderá produzir uma grande quantidade de livros e, barateando o custo da produção, poderá vendê-los ou doá-los para os países mais pobres.
Antes desse Acordo, o Brasil doou alguns milhares de livros a um país africano de língua portuguesa e, depois de avaliados por uma consultoria local, foram proibidos de circular porque atrapalharia a aprendizagem da língua portuguesa ali, visto que sua ortografia diverge da nossa.
Os livros portugueses poderão circular mais facilmente no Brasil, assim como os brasileiros poderão ser consumidos em qualquer país do mundo do mesmo modo.
Se outro banqueiro brasileiro for preso na Europa, não será mais necessário traduzir os documentos do português do Brasil para eles, pois o português é uma das línguas oficiais da União Européia.
Os cursos de língua portuguesa para estrangeiros serão facilitados por uma ortografia unificada, assim como o ensino a distância da língua terá muito maior sucesso pois o material didático será idêntico para qualquer um dos países. Veja que os portugueses também terão vantagens, pois o português é segunda língua em todo o Mercosul, além do fato de que nossas novelas difundem o português em todo mundo, enquanto Portugal não tem a mesma penetração midiática.
Enfim. Há muitas vantagens e muitas desvantagens.
As desvantagens são de curta duração, pois, na próxima geração, todos os estudantes de hoje já terão assimilado essa nova ortografia, enquanto o progresso da humanidade não é concluído ao final de cada geração.